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Censo 2022 revela crescimento notável da população indígena no Brasil

Atualizado: 14 de jan.

Katia Torres


Cacique Merong Kamakã


A população indígena do Brasil registrou um crescimento notável em comparação com o último censo demográfico realizado em 2010, saltando de 896,9 mil para 1,69 milhão de pessoas. Os dados fornecidos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) não apenas quantificam a população indígena do país, mas também permitem estudos sobre sua distribuição geográfica, tanto dentro quanto fora das Terras Indígenas (TIs), bem como informações sobre domicílios permanentes ocupados e outras estatísticas relevantes.


Diversos fatores podem ter contribuído para esse crescimento. Uma mudança significativa foi a inclusão de uma pergunta adicional no Censo 2022 para pessoas de determinadas localidades: "Você se considera indígena?" Anteriormente, a pergunta se limitava apenas à cor do entrevistado e muitos indígenas que não moravam em TIs não se identificavam como tais.


Uma vez que a maioria da população indígena reside fora dessas terras, essa mudança pode explicar em parte o aumento populacional, embora não justifique totalmente sua magnitude.














85 novas terras indígenas no Brasil


Um aspecto importante revelado pelo Censo é o aumento no número de Terras Indígenas regularizadas no Brasil, totalizando 85 unidades a mais em relação ao levantamento passado. A regularização dessas terras não apenas contribui para a preservação da cultura e tradições indígenas, mas também serve como atrativo dos indígenas que foram forçados a se deslocarem para os centros urbanos.


Vale ressaltar que a criação do Ministério dos Povos Originários, sob a liderança da ministra Sônia Guajajara, a participação marcante do cacique Raoni na posse do presidente eleito, Luís Inácio Lula da Silva, e o empoderamento político crescente desses povos como vereadores, prefeitos e deputados, também podem ter incentivado um maior senso de pertencimento entre os indígenas.



Minas Gerais


O Sudeste representa em torno de 7% da população indígena do país e Minas Gerais em torno de 2%. Um dos principais resultados do Censo é que cerca de 60% da população indígena brasileira reside fora das TIs. Na região Sudeste a situação é ainda maior, já que 80% residem nos centros urbanos.


As histórias das aldeias Apucaré e CVJ (Cinta Vermelha Jundiba), ambas no Vale do Jequitinhonha, também representam as complexidades enfrentadas pelos indígenas, seja pela luta por sobrevivência ou pela posse das terras. O preconceito e os estigmas, perpetuados pelos habitantes na região, levam a reações xenofóbicas, como a alegação injusta de que eles seriam "cachaceiros e preguiçosos e que fingem ser índios para obter terras do governo".


Na Aldeia CVJ, as etnias Pankararu e Pataxó enfrentam dificuldades com a seca, embora o Rio Jequitinhonha esteja próximo. Eles dependem da venda de artesanato, do recebimento de água potável por caminhões-pipa e carecem de apoio por meio de políticas públicas. Antonio Pankararu, residente na aldeia que respondeu ao Censo, relata: “Nosso povo tinha medo de falar que era indígena. Hoje tenho orgulho e me emociono comigo mesmo, sou indígena brasileiro e precisamos juntar nossos parentes”.



Terras Indígenas regularizadas em Minas


Existem sete Terras Indígenas regularizadas em Minas Gerais que abrigam 12.137 pessoas. Elas representam 33% em relação ao total do estado, ficando 24.562 (67%) dispersos em 706 dos 853 municípios mineiros. Em Belo Horizonte, Contagem e Betim, por exemplo, residem 4.249 indígenas, em sua maioria vivendo em situação de precariedade.


Tal realidade evidencia a luta dos Kamakã Mongoió de Brumadinho pela regularização de suas terras, o que facilitaria o retorno dos seus parentes indígenas dos grandes centros urbanos. O Cacique Merong Kamacã Mongoió considera que nos censos anteriores as pessoas se esquivavam de assumir sua identidade indígena. “O motivo era o medo do preconceito e da violência sobre nós. Hoje não, hoje temos orgulho em ser quem somos”, explica.


São João das Missões é uma das sete TIs regularizadas. Ela abriga 8.796 indígenas da etnia Xacriabá. As outras são: Fazenda Guarani, Hãm Yîxux, Krenak, Mundo Verde/Cachoeirinha, Maxacali e Xacriabá Rancharia.



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