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Eleições na França: entenda de forma simples como funciona

Atualizado: 30 de jan

O presidente Emmanuel Macron  - Foto: Stephane Lemouton / Bestimage / IMAGO
O presidente Emmanuel Macron - Foto: Stephane Lemouton / Bestimage / IMAGO


"Não foi um bom resultado para os partidos que defendem a Europa", disse o presidente francês Emmanuel Macron após o desempenho histórico do partido de extrema-direita Reagrupamento Nacional (RN) nas eleições europeias de 2024. "Eu não poderia, no final deste dia, agir como se nada estivesse acontecendo. Eu decidi dar a vocês a escolha. Portanto, eu dissolverei a Assembleia Nacional esta noite."

Com essas palavras, Macron surpreendeu a todos ao convocar eleições legislativas antecipadas. Foi Bardella quem, em uma postagem no X (antigo Twitter), sugeriu a Macron a dissolução do parlamento e eleições antecipadas: "Esta eleição histórica mostra que quando o povo vota, o povo vence. Estamos prontos para exercer o poder." Verdade ou brincadeira, o pedido poderia do líder da extrema direita foi atendido.


Mas como funcionam as eleições legislativas na França? E por que Macron tomou essa decisão inesperada?


eleitor inserindo voto na urna
Urna francesa: foto Canva

As eleições legislativas francesas são realizadas para eleger os 577 deputados da Assembleia Nacional, a câmara baixa do Parlamento. A Assembleia Nacional é considerada a câmara mais importante e poderosa do sistema parlamentar bicameral francês. Ela tem funções cruciais, como debater e votar projetos de lei, supervisionar as ações do governo e discutir o orçamento anual do Estado.


As eleições para a Assembleia Nacional ocorrem em dois turnos: no primeiro, os eleitores votam em seus candidatos preferidos em cada distrito. Se nenhum candidato obtiver mais de 50% dos votos válidos, os dois mais votados avançam para o segundo turno, quando o eleitor escolhe entre eles.


Na eleição de 2024, o RN teve um ótimo primeiro turno e parecia prestes a conquistar muitos assentos. Porém, entre os dois turnos, partidos de centro, esquerda e ecologistas se uniram em uma "frente republicana" para apoiar os candidatos com mais chances de derrotar a extrema-direita em cada distrito. A estratégia deu certo: a Coalizão de Esquerda acabou com o maior número de cadeiras, frustrando as ambições do RN.


Mas por que Macron convocou essas eleições antes do fim do mandato da Assembleia? O presidente francês tem o poder de dissolver a câmara baixa, previsto no artigo 12 da Constituição. Ele o fez após meses de impasse político, argumentando que a Assembleia não estava mais alinhada com a vontade do povo e que precisava de um novo mandato para governar.




Com a dissolução, todos os deputados perderam seus assentos prematuramente. Eles puderam concorrer novamente, mas sem garantia de reeleição. Durante o período entre a dissolução e as novas eleições, o governo continuou administrando o país, mas sem poder introduzir novas leis substanciais.


Os resultados não deram a Macron a maioria que esperava, o que pode trazer mais impasses políticos. Na França, o presidente tem um mandato de 5 anos, enquanto o primeiro-ministro, que ele nomeia, não tem prazo fixo. Normalmente, o premiê vem do partido ou coalizão que tem maioria na Assembleia. Sem essa maioria, Macron pode ter que nomear um primeiro-ministro de outro campo político, na chamada "coabitação".


A coabitação ocorre quando o presidente e o primeiro-ministro são de partidos ou coalizões opostas. Nessa situação, eles são obrigados a trabalhar juntos e a chegar a compromissos sobre políticas e legislação. Isso pode levar a tensões e dificuldades na governança do país.


Esse cenário lembra 1997, quando o então presidente Jacques Chirac dissolveu a Assembleia, só para ver a esquerda conquistar a maioria e ser forçado a "coabitar" por 5 anos. Agora, Macron enfrenta uma situação parecida. Ele terá que negociar com a Coalizão de Esquerda para formar um governo, já que seu partido não tem mais maioria.




As eleições de 2024 mostraram a força da insatisfação popular e a habilidade dos partidos em se adaptar. Embora o RN tenha ficado aquém do esperado, seu avanço é um sinal dos desafios que Macron e a Europa enfrentam. Cabe agora ao presidente francês navegar nesse novo cenário político para tentar implementar sua agenda nos anos restantes de seu mandato.


 
Saiba Mais

infográfico das eleições na frança
Infográfico das eleições na França / Jornal Diverso

Dissolução: De acordo com a Constituição, o presidente pode dissolver a Assembleia Nacional após consultar o primeiro-ministro e os presidentes de ambas as câmaras do parlamento (Assembleia Nacional e Senado). Após a dissolução, as eleições para uma nova Assembleia Nacional devem ser realizadas no prazo de 20 a 40 dias.


No entanto, existem algumas restrições a esse poder:


  1. O presidente não pode dissolver a Assembleia Nacional novamente no ano seguinte à eleição resultante de uma dissolução anterior.

  2. A dissolução não pode ocorrer durante um estado de emergência ou quando o presidente estiver exercendo poderes emergenciais especiais sob o artigo 16 da Constituição.

  3. Na prática, a dissolução é geralmente usada quando o presidente enfrenta uma Assembleia Nacional hostil ou quer buscar um novo mandato para implementar sua agenda política.



Funções: A Assembléia Nacional tem várias funções importantes:


  1. Legislação: A Assembleia Nacional debate e vota projetos de lei. Para que um projeto se torne lei, ele deve ser aprovado tanto pela Assembleia Nacional quanto pelo Senado (a câmara alta).

  2. Controle do governo: A Assembleia Nacional supervisiona as ações do governo e pode questionar os ministros sobre suas políticas. Ela também pode passar moções de censura para remover o governo do poder.

  3. Orçamento: A Assembleia Nacional discute e vota o orçamento anual do Estado. Em comparação, a câmara alta na França, chamada de Senado (Sénat), tem 348 senadores eleitos indiretamente para mandatos de seis anos. Embora o Senado também esteja envolvido no processo legislativo, a Assembleia Nacional geralmente tem a última palavra em caso de desacordo entre as duas câmaras.




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